quarta-feira, 23 de novembro de 2011

GÍRIA - Uma variação linguística

Variação Lingüística, que bicho é esse? “Os vários falares entre falantes de uma língua”.

Como assim?

Seguinte: cada um fala conforme o lugar em que nasceu ou em que vive. Paulistas e cariocas falam com pronúncias diferentes, certo? É um exemplo de variação diatópica (pense em “topografia” pra ajudar a guardar essa palavrinha).

Cada um fala conforme seu contexto social, sua idade, seu sexo. É a variação diastrática (pense na palavra “estrato” pra guardar melhor essa palavra na cachola).

Cada um fala conforme a situação: formal ou informal. É a variação diafásica (pense em “fase”, momento, tipo assim, sacou?).

Cada um fala conforme a data do seu nascimento. Como assim? Que nada, é só pra dizer que cada um fala conforme o momento histórico em que se situa. É a variação diacrônica, e pra você entender direito é só pensar nos falantes do século XVIII. Alguma coisa mudou, certo?

Existe mais variação ainda, tá! Mas hoje vamos falar só dessas, senão você pira!

E por falar em pirar, resolvemos usar um tema bacana pra explicar a variação lingüística: gíria! Não conheço ninguém que não use gíria! Mesmo a sua bisavó usa! Ou ela nunca falou: “que fuzarca é essa na minha sala?”.

Gíria é um fenômeno de linguagem especial usada por certos grupos sociais pertencentes à uma classe ou a uma profissão em que se usa uma palavra não convencional para designar outras palavras formais da língua com intuito de fazer segredo, humor ou distinguir o grupo dos demais criando uma linguagem própria (jargão). É empregada por jovens e adultos de diferentes classes sociais, e observa-se que seu uso cresce entre os meios de comunicação de massa.

Gíria é um lance gostoso de estudar, já que a gíria pode ser analisada sob todos os aspectos da variação, pois muda conforme a região do falante, muda conforme o contexto social, a idade e o sexo, e muda com o passar do tempo. Pegamos pesado agora, né? Que nada, relaxa!

O objetivo desse papo todo é mostrar que falar de um modo ou de outro é coisa própria da língua, e que a gíria é uma forma de comunicação, usada em determinado espaço (lugar), determinada época (tempo) e em determinado contexto social (conforme sexo, idade, status social, etc). Guarde isso, você ainda vai precisar!!

Antenados na variação diacrônica, olha só algumas gírias de antigamente (antigamente? Pega mais leve...):

ANOS 40

Balangandãs (festas)
Brotinho (moça bonita)
Do barulho (Perigoso)
Dor de cotovelo (ciúme)
Flerte (olhar malicioso)
Fuzarca (Chacrinha)
O.K. (tudo em ordem)
Ou vai ou racha (é agora ou nunca) opa...isso também é gíria!!

ANOS 60

Boa-pinta (cara bonito, simpático)
Cafona (fora de moda)
Cara (indivíduo)
Carango (carro)
Chapa (amigo)
Dar tábua ( recusar-se a dançar)
É fogo! (é difícil)
Gamar ( ficar apaixonado)
Gata
Grana
Legal!
Mancar (desrespeitar o compromisso)
Paca (muito)
Pão (homem bonito)
Paz e Amor.
Pé de chinelo
Pra frente (moderno)
Quadrado (conservador)
Uma brasa, mora!
ANOS 70
Aprontar (fazer algo errado)
Barra (situação difícil)
Bicho (amigo)
Careta (sujeito quadrado)Curtir (aproveitar)                                                     
 
Dançou!
Dar no pé
Dar o cano (desrespeitar compromisso)
Desligado (distraído)
Entrar pelo cano (se dar mal)
Estar por fora (não sabe do assunto)
Falou e disse (é isso aí) que tbm é gíria!
Fazer a cabeça (agradar)
Goiaba (bobo)
Já era!
Jóia (tudo bem)
Maneiro
Numa boa
Paquera
Pô! (surpreso)
Podes crer
Ponta firme (sujeito bacana)
Sacou? (entendeu?)


ANOS 80

Bode (mau humor)
Brega
Colocar (explicar)
Deprê.
Massa! (legal)
Mina (garota)
Ô, meu!
Pega leve

ANOS 90

Antenado (conhecedor)
Balada (diversão)
Brother (amigo)
Chavecar (paquerar)
De lei (é assim)
Descolar (arranjar)
É ruim, hein?!
Estiloso (pessoa bem arrumada)
Ficar (namoro rápido e sem compromisso)
Fofa
Gato (homem bonito)
Grunge (estilo despojado)
Pagando um mico
Pagando um sapo
Patricinha
Perua
Pintar (aparecer)
Zoar (fazer bagunça)
2000

Abalar (causar boa impressão)
Alemão (pessoa de caráter duvidoso)
Beca (roupa)
Bolado (surpreso)
Bombado (lugar animado)
Buzum (ônibus)
Caozeiro (quem mente demais)
Chapa quente (clima agitado)
Cumpadi (amigo)
Passar o rodo (atacar)
Pisante (tênis)
Popozuda (mulher com a bunda grande)
Responsa (confiável)
2011

Arroz: O cara que só anda acompanhado de várias mulheres, mas não namora nenhuma.
Bifão: O cara que só anda acompanhado de várias mulheres mas não está namorando nenhuma.
Boca de Veludo: Garota que diz que faz sexo oral.
Bonde: Fileira. Grupo de amigos da mesma comunidade.
Bucha: Pessoa inconveniente, importuna, safado.
Cachorra: Vadia.
Caô: Mentira, Boato.
Caozeiro: Quem mente demais.
Cap (quép): Boné
Cata-Mocréia: Pessoa que vai em porta de escola seduzir as alunas na hora da saída.
Chapa Quente: Lugar em que o clima é agitado.
Coiote: Gay enrustido.
Colar com: Andar junto com, se aproximar de.
Concurso de Galera: Baile funk que realiza etapas de concursos diversos para unir as comunidades.
Conspirar: Ser falso com os amigos.
Corredor: Espaço que divide o Lado A do Lado B.
Cortar na mão: Tomar a namorada de alguém.
Cumpadi: Amigo, camarada, companheiro, cara.
Dar uns cortes: Transar com uma mulher.
Demorô: Isso aí, sim.
Falou (Falô): Tchau, até mais, "ah, tudo bem!".
Farofeiro: Quem mora longe da praia e vai levando comida
Pessoa que fala alto, é inconveniente e gosta de se mostrar.
Fazer a união: Juntar as comunidades.
Gogó: Pessoa que mente ou a própria mentira que ele conta.
Incorporar: encarnar o mau, o diabo.
Já É: É isso aí.
Mala: Pessoa chata.
Maneiro: Legal, sensacional, simpático.
Mascarado: Falso, que é contrário do que fala.
Mel: Bom. Ficar um mel: Ficar bom.
Mercenária: Mulher interesseira.
Mijar no meio do vaso: Ter intimidade dentro da casa de alguém.
Morô?: Entendeu?
Mulão: Grupo de muitas pessoas.
Mulher Chumbinho: Mulher com doença, com HIV (AIDS)
Muquirana: Que tem má intenção, malvado, traiçoeiro.
Não dá camisa: Caminho errado. "confusão não dá camisa à ninguém"
Nínguem merece: Chatear.
Olhões: Os funkeiros.
Osso da borboleta: Estar numa situação desfavorável.
Pancadão: Batida grave do miami bass.
Passar o cerol na mão: Ficar com alguma mulher.
Passar o rodo: Atacar.
Pegar pra criar: Fato de seduzir uma garota novinha com o intuito de possuí-la, mais tarde, quando estiver com corpo formado.
Pela Saco: Pessoa importuna, que chateia os outros.
Pisante: Tênis
Pixadão: Quem está de bobeira.
Poça D´Água: Baía de Guanabara.
Popozuda: Mulher com a bunda grande.
Porpurinada: Mulher bem tratada, cheirosa.
Potranca: Mulher boa de cama.
Preparadas: Mulher fácil e experiente.
Presepeiro: Pessoa que faz uma promessa e procede com safadeza. Não cumpre o que promete.
Puxar o bonde: Formar um grupo de galeras no baile.
Rapeize: Rapaziada.
Responsa: Confiável, Agradável, divertido.
Rolé: Passear, Andar sem compromisso.
Sangue Bom: Pessoa de qualidade, boa índole.
Shock Legal: Muito bom, Excelente.
Simpático: Pessoa falsa.
Style: Estar muito bem arrumado.
Tá dominado: estar sob controle ou invadido.
Tá ligado?: Entendeu?
Tchutchuca: Garota bonita.
Tecido: Estilo de se vestir, tipo de roupa.
Tigrão: Homem de aparência grotesca que consegue namorar mulheres bonitas.
Tomar bola: Sofrer prejuízo, dano. Sair lezado.
Uva: Bom. O baile tá uma uva: O baile tá bom.
Vai enganar Teteu: Expressão que significa "Eu não acredito nisso".
Vala: a própria morte. "se você der mole vai pra vala"
Veneno: bebida alcólica.
X9: Informante.
Zoar: Agitar, fazer agito


Reparou na quantidade de gíria usadas em baile funk e nas comunidades cariocas? Isso tem a ver com as mudanças sociais ocorridas no nosso século, certo? As pessoas falam e inventam palavras que tem a ver com seu cotidiano. Mas quem não freqüenta baile funk não usa essas gírias para não ser identificado como um dos freqüentadores, assim como os caras que curtem baile funk usam a gíria pra mostrar quem são e do que gostam. Portanto, ao usar uma gíria, pense na mensagem que você quer passar, beleza?
E aí? Tá tudo dominado?
Como já falamos, o uso da gíria depende do contexto social, da idade da pessoa, do sexo, da tribo a que pertence. É a tal variação diafásica da linguagem. Por causa disso é que nos identificamos com determinadas gírias ou não: porque queremos mostrar através de nossa linguagem a que meio pertencemos. O jeitão de falar deixa claro muita coisa, certo? Por isso, preste bem atenção às gírias, pois alguns termos podem ser bem aceitos em determinado grupo e totalmente repelidos por outro. Então, a característica de código da língua fica bem evidente no caso das gírias, perceberam? Olha só a  riqueza lingüística da gíria: todo um conceito, um estilo, estão embutidos na gíria. Pense na seguinte frase: “Te devo uma, heim! Valeu!” (a mensagem diz tudo, se o locutor e interlocutor entendem o código). Vale lembrar alguns aspectos sociais da linguagem: adequação, integração e aceitação, necessidade de se rebelar, chamar a atenção, ser diferente, ser igual, sentir-se na moda (ser aceito) etc.E pra mandar bem, queremos lembrar que a gíria pode ser regional também, é a chamada variedade diatópica: tipo, o que funciona em São Paulo  não funciona na Bahia, por exemplo. Não confundir com jargão (apesar de que o “Aurélio” diz que gíria e jargão é a mesma coisa). Geralmente, o jargão é usado profissionalmente. Parece gíria mas não é a mesma coisa. Ou é? Aceitamos sugestões.Um jargão profissional é um jargão caracterizado pela utilização restrita a um círculo profissional, ou seja, um conjunto de termos específicos usados entre pessoas que compartilham a mesma profissão. São exemplos de jargões profissionais o juridiquês, o economês e o vício do gerundismo próprio dos profissionais de telemarketing e vendas: “estaremos fazendo a mudança para o senhor, infeliz, que está ouvindo essa mensagem que eu estarei passando para o meu supervisor, outro infeliz”.
Olha o que um cara que manda muito bem sobre gírias, disse:

“A gíria é a linguagem falada, a linguagem usual, das ruas. As pessoas não querem saber como falam os sábios, os gramáticos, os dinossauros da linguagem, os lingüistas. Querem saber como o povo fala.  No Japão vivem 300 mil brasileiros, alguns com vários anos lá. Como a televisão brasileira está alcançando vários países, inclusive o Japão, para entender a linguagem corrente eles querem saber o que é gíria e o que é língua padrão. A gíria é cultura, patrimônio imaterial de um povo, sua linguagem afetiva, diária, instantânea, impulsiva. No Brasil há o agravo de que os baixos índices de leitura, derivados de educação insuficiente, levam as pessoas a ter vocabulário reduzido. Ou, como afirmo, um equipamento lingüístico incipiente. Se não houvesse gíria os brasileiros não se entenderiam. Os regionalismos, se não fossem compreendidos fora das fronteiras regionais, teriam derivado para dialetos.” – Alceu Gama
Sabe que tem até Dicionário de Gírias! Procuramos nas livrarias, mas não encontramos...:(  

Mas vamos nessa, mesmo assim!

Vale lembrar que esse jeitão de falar é bacana, tudo bem, mas na hora de escrever uma resenha pelo amor de Deus, escrevam certinho, sem gírias! Papo sério!
http://www.alceugama.com.br/conteudo/mostrar/categoria/entrevistas
http://www.jacaremoto.com.br
htpp://www. josekuller.wordpress.com